quinta-feira, 20 de setembro de 2018
Uma face da sua natureza
Você me sente.
Ainda que não me deseje, lhe pertenço.
Estou presente, participo do seu ser.
Sei, quando ficamos a sós inspiro pensamentos que não queria ter.
Você tenta me evitar.
Deixa de me olhar...
E chora.
Sinto muito.
Mas você não atina o que atinjo,
Não alcança o que antevejo: não apenas subtraio.
Posso acrescer...
Até quando parece que espolio,
Até quando parece que assombro,
Até quando parece sangrar.
Acredite, esta dança é nossa, natural.
São momentos, movimentos... de melodias minhas
Concertando a vida por si.
Apareço às perdas, às dores do peito... de amores,
E dos insucessos, às frustrações.
Dou-lhe nó à garganta, desperto desânimo,
Assalto seu sereno à mão desarmada.
Posso invadir-lhe a casa a qualquer instante,
Assenhorar-me de seus sentidos,
Palidecer seus dias,
Furtar cor de seu coração.
Faço parte dos vazios.
Preencho-os de lágrimas.
Mas só fico se me fortificar,
Se me amanhar, regar, adubar,
Se me segurar, aprisionar-me em seu interior.
Faço parte do seu destino... mas não o resuma a mim.
Não me queira inexistente... mas também não me alimente.
Não será capaz de me eliminar. Admita-me.
Intensa que sou, não poderá se esquivar.
Aceita-me a existência.
Sente-me...
E me solta.
Sim, sou sua tristeza.
Uma face inevitável da sua natureza.
Olhe-me nos olhos, com toda ternura que puder
Para que, cumprida minha missão, possa partir...
E você venha a evoluir, frutificado.
Mais maduro e doce.