segunda-feira, 1 de abril de 2019

Convivendo com ela



Ela levou meu pai, minha mãe.
Levou marido de meus olhos...
E vai levando amigos.

Me reergui, re-construí, me re-compus.
Mas a cada novo adeus me percebo perdida de pedaços
Impossíveis de repor,
Que nunca mais serão meus.
Porções da soma que fizemos,
Dos conjuntos que constituímos.

Com meus amores me despedi de partes minhas.
O que era com eles jamais serei.
O que tive com eles jamais terei.

Com eles partiram porções de meu peito
Que me compunham plena de partilha.
Fui elemento de grupamento que se quebrou.
Aqueles coletivos não existem mais...
A não ser em história.

De memória emergem do modo possível.
Impalpável, invisível, etéreo.
Sou espaço com essas lacunas.

Foi com os corpos de meus amores o que lhes depositei
A cada olhar, a cada abraço, a cada conversa...
Que, agora, acontecem apenas em minha mente.

Amo. É o que me move
E mantém viva.
Mas nunca mais como antes.
Tempo algum, reforma alguma restitui o que o adeus tirou.

Sou espaço com essas lacunas.
E cada nova despedida reforça essas faltas.
Não sou a mesma mais, por superior que possa ser.

E viver vai se mostrando soma de subtrações.

E morrer vai evocando algum saber,
Convidando a melhor Viver.