quinta-feira, 28 de agosto de 2014
Romance rápido
O vento fez a curva... e encontrou a face inesperada da surpresa. Percorreu-lhe os contornos, tomou-lhe os traços, vestiu-lhe o rosto pálido, de pouca cor. Resfriou-lhe as extremidades, frágeis, longilíneas e alongadas em suspense. Tocou-lhe a pele estimulando tônus, enrijecendo-a, paralisando-a em espera.
O vento fez a curva e... soando em silvos, sussurrou-lhe aos ouvidos. Seguiu assoviando, dobrando os cantos da roupa, virando-a do avesso e... beijando-lhe os lábios, ultrapassou suas barreiras. Em sons audíveis, levantou poeira... e suspiros, e sobrancelhas. E assombrou-lhe a boca, descortinando os olhos, descerrando as pálpebras... caídas, de noites mal dormidas.
O vento fez a curva... e lançou-se sobre ela, afoito, feroz. Encarou-a de frente, imediatamente. Enfrentou-lhe a tez tensa... e avançou. Suspendeu-lhe a saia do sorriso, acariciando-a sem pudor. Assanhou-lhe os cabelos, arrepiou-a inteira. Percorreu-a toda, a dedos leves. Deitou-lhe chibata invisível... marcando-a para sempre, a seus tecidos... em estampas de lembranças.
O vento fez a curva e... penetrou-a. Invadiu-a e tomou-a, à luz do dia. Devassou-a com furor... e foi-se embora. Ela ficou, atônita. Hipnotizada, aturdida, contendo-o em si, em seus sentidos. Engravidou. Pariu memórias: suas sombras. Vive... com ele em sonho.
O vento fez a curva, encontrou-a face a face, fecundou-a e... adeus !