quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Rubem



Foi feliz e foi triste. Foi estranho... e um susto ! Conhecê-lo falecido, encontrá-lo com um adeus ! 

Passamos a semana juntos, enlaçados, conversando... só nós dois. Ele sob meus olhos, todo entre meus braços, a cabeça em minhas mãos. Meus dedos passearam por sua fronte, penteando fios de ideias de comprimentos diversos. Ouvi-o, em silêncio, atentamente. Acompanhei suas histórias, interrompendo-o, eventualmente... para grifos, notas, objeções... completa mente interessada em suas revelações. Sussurrei as minhas próprias e somei constatações. Entre sorrisos, descobri segredos seus, parecidos com alguns meus. Celebrei identidades, resmunguei discordâncias, colecionei instantes bons.

Esteve comigo, presente, e distante. Discutimos, sem discussão. Sobrevoei e mergulhei suas ideias... em pensamento e em voz alta. Calmamente, deixando sedimentar o importante, esperando passar incômodos e ensejos de calor. Assistindo assentar, clarear, o que brevemente pareceu escurecer. Acomodei entendimentos. Apreciei cada momento... progressivamente mais. .

Tive ímpeto de deixá-lo para escrever-lhe, colocando no papel algo mais além do que dele tirei. Aconteceu mais de uma vez. Ansiava argumentar, questionar afirmativas, contrapor pontos de vista, justificar meios e fins meus, expondo nossas diferenças. Desejei obter suas respostas, outras respostas, mais respostas: estender aquela prosa produtiva. Tudo, tudo porque a empatia fora imediata, contato de entendimento desde o primeiro momento. Assim, ansiei mais, antes mesmo do fim.

E eis que surge, em susto, declaração silenciosa: ele está morto. Um contato outro, direto, diferente, não tem como vingar. Ele só poderá ser conhecido dessa forma, da mesma forma, do mesmo jeito: vendo sem vê-lo, sentindo ao lê-lo.

O livro que hesitava terminar, termina com um adeus. Não dele, mas do editor: uma despedida em seu nome. Ele se foi, faleceu.

Pois que está morto e está vivo ! Atingiu o objetivo. Realizou o intento de ficar pela escrita, através do que deixou. Missão cumprida. 

Que fique em paz !... E assim se multiplique.

Foi muuuuito bom começar a conhecer você !