quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015
Da idade
O homem, acostumado ao vigor do corpo, à conquista do concreto, não sabe bem o que fazer de si quando esse poder decresce, muda, lembra um adeus.
Procura em espelhos e não se encontra. Desequilibra-se diante de dobras, imagens flácidas, fragilidades. Apequena-se a menos força. A vulnerabilidade da carne ameaça. Pode invadir o interior, tomar o olhar... e transbordar.
Ele sabe...
Vislumbra a finitude sem certezas e padece, a vagar... em olhares perdidos, achados cheios de silêncio, encobertos por fino véu. Passeiam o alheio, sem destino certo. Fixam-se no nada, à procura de porto, uma âncora... de ternura, alguma segurança. Talvez mais. Assim, briga consigo em segredo.
Disfarça com palavras soltas, aparentemente leves, tolas, em tentativa de alegria. Seu íntimo está dividido: quer crer no que sabe não poder.
Agarra-se a notícias, apoia-se em novos planos, alimenta-se do que conhece... sem perceber o presente que passa... em águas de leito de rio, sob seus pés. Ah, se pudesse permitir-se fruir !
Quisera poder dizer-lhe que se banhasse. Quisera poder oferecer-lhe o cais de que carece. Quisera poder iluminar-lhe a face, acender-lhe O sorriso, clarear-lhe o olhar, dissipando nuvens, arrancando a névoa que esconde o azul de céu no mar seu.
Quisera abraçá-lo por dentro, fazê-lo sentir - mais que acreditar - que É onde deveria estar.
E que vai ficar !