quinta-feira, 25 de junho de 2015
Soluços e silêncios
Como tantas outras vezes, foi despir-se, deitar o relógio e permitir-se à correnteza !...
Que prazer adentrar rios de palavras !
Como tantas outras vezes, indicava ser passeio em águas mansas. Curioso é, no entanto, como podemos ser surpreendidos pelo insuspeito, de repente, e... adeus equilíbrio ! O que parece ser um curso raso pode esconder abundâncias, volumes, espaços: surpresas. E converter-se em experiência de mergulho. Adentrando o inesperado, somos levados a profundezas !
Como tantas outras vezes, nadava sentenças com deleite de quem boia, flutua em superfície, conduzida por torrentes. Sem impor ritmo, sem opor resistência. Ah, ler é dançar !... Seguir o balanço das ideias, deixando-se conduzir por pensamento alheio, antes do palco ser só seu.
Como tantas outras vezes, o autor - despertador de meus sorrisos - me navegava em mares novos. Inesperadamente me lançava ao universo da dor. Uma frase e... cachoeira ! Abriram-se gavetas, armários de emoção. Escancaram portas, janelas de sentimentos desprovidos de legendas, sem tradução simultânea. A represa de passado abriu comportas. Inundou o momento despejando soluços às golfadas e borbulhas.
Como tantas outras vezes, corpo torna-se passageiro. Perde os remos, não tem rédeas. Não num primeiro instante, de assombro. A biologia hasteia as bandeiras da psique, expõe com placas o conteúdo interior, e leva ser a passear... sem sua escolha consciente. A leitura faz conexões, liga. Têm controles remotos sem teclas coloridas.
Como tantas outras vezes, à bonança estampou-se a dúvida. E depois exclamação. O que é o tempo, então ? Um átimo e nada se discrimina. Presente e passado somam-se, confundem-se, miscigenados. Nada tem começo ou meio ou fim: tudo é um só momento. Tão vivo, e intenso, e denso, e imennnnso ! Esse, uma avalanche... de susto e comoção.
Como tantas outras vezes, depois de uma viagem por palavras e emoções, foi despir-se, deitar o relógio e permitir-se à correnteza... do silêncio.