sexta-feira, 19 de junho de 2015

Nada e tudo... em fim de tarde



Ah, ir pra rede e fazer... nada !...
Ou muita coisa... que é coisa alguma
Pra muita gente que se acha ocupada
Ou considera-se, por tanto, importante.

Agrado-me desse deleite
Em outono-inverno, principalmente,
Quando o sabor de uma rede é crescido,
Acrescido com frescor.

Deito sentada e, enredada,
Bordo a vida ponto a ponto,
Sem qualquer pressa, em pensamento...

De vento frio atiçando a pele, ponteada toda, desnudada para cobrir-se de carícias.
De azul intenso e fundo, sobre a cabeça.
De voo rasante de passarinho apressado.
De salsa que balança, pende, dança no vaso.
De revoada de pomba que sabe que é hora de ir pra casa.
De crepúsculo que leva a luz pra deitar.
De sirene, apito, buzina, pneu...
De avião que não me vê, que me ignora e, incrédula, encantada, ainda admiro.
De poça que brilha e me espelha no chão.
De céu que, pintado, entre desenhos de nuvens, descolore devagar... e se apaga num piscar.
De menina que namora gavião.

Ah, diriam os cumpridores de tarefas:
Absurdo, arranja o que fazer !...

E, enquanto esses fazem... tanto objetivo,
Admito operar nada importante.
Nada além de ousar viver !