terça-feira, 4 de agosto de 2015

Cumprir tabela, nem pensar !



Ah, não vou ! Comparecer pra fazer número, preencher espaço, cumprir tabela ? Pode esquecer ! Bancar o dois de paus, decorar ambiente ? Nem pensar ! 

Esse negócio de só levar o corpo pra passear, a embalagem pra aparecer, não é comigo. O sentimento precisa ser convidado, a mente deve ir com o coração. Horas percorridas com palavras vazias, gastas com conversas pobres, olhares vagos ? Tempo perdido com sorrisos montados, vestidos do avesso, maquiados pra pose, fazendo de conta, incorporando personagem ? Nana, nina, não ! Meu palco é pra ser vivido... com V: o ato tem de ter verdade. Não à encenação !

Este sangue não corre por veias políticas, ainda que julgue a diplomacia muito bem-vinda e, com frequência, essencial. Não sou dada, contudo, às feições de paisagem. Menos ainda a levar-me a um lugar só para ficar bacana, sair bem na foto... da percepção do outro. Ah, se for pra ir é pra estar lá... completa: levar coração dentro da casca, olhar de mente atenta, sentidos vivos. Não me parto aos pedaços, só aceito transporte coletivo... do todo de mim.

Assim, se disser "não vou", poupe insistência. Bobagem martelar, teimar, discutir. Uma vez é bom tamanho. Ouvir reprise ? Carece não. O treinamento vem de infância: mãe disse, pai mencionou... e está falado ! Aliás, um olhar bastava, suficiente ao aprendizado. Logo, passou mensagem, uma vez... e está arquivado. Segue o processo à apreciação legal, em segredo de justiça, de estado - ou não.

Do mesmo modo, não me force a dançar os mesmos discursos, bisar as mesma notas, redizer os mesmos refrões, voltando pelos mesmos caminhos, contornando os mesmos pontos, reexplicando meus porquês. "Vale a pena ver de novo", aaaai, por favor, só na tv !

Aceita que eventual ausência seja por bem. Além do meu, o seu também. Provavelmente, em caso assim, se o corpo não for, é que uma outra porção necessita de mim. Pode ser a cabeça que demande descanso. Ou, ao contrário, outro exercício. Ou é o coração que carece atenção, outras artes, talvez.

Este corpo não topa desfilar, posar sem seu recheio. Não é afeito a andar oco, mal ajambrado, equilibrando cabeça vazia, pensamento vago. Tão pouco coração frio, ou quente em excesso, peito fechado. Ah, estas pernas não se deslocam sem um impulso de peso !

A realidade, laaaá no fundo, é que movo-me, sustento-me a sorriso... que só vibra, estampado em face, colorido, se nascido verdadeiro: o que pede um ser inteiro. Doutro modo, mascarado, nada feito, nem pensar !

Assim, se EU for, quer onde seja, em maiúscula estarei lá ! E, em caso oposto, acredite, melhor que eu não vá.