segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Poços de desejos



Somos poços... de desejos e carências. Alguns de nós precisam apossar-se de sacolas, volumes, marcas, estampar-se em etiquetas... enquanto carros grandes, grandes casas ostentam necessidades internas de outros tantos. Ou dos mesmos.

O inconsciente procura vias de apaziguar-se. Nem sempre o pensamento consciente anda junto, de mãos dadas, atento, observador, lúcido de seus porquês. Agimos, muito, movidos por fora, alheios de dentro... e vice-versa. Ao acordar não despertamos. Via de regra, apenas nos ligamos, em pilotos automáticos, ao modus operandi de costumes, dando start a sistemas operacionais. Esquemas que instalamos por vias de contatos, meios de trocas sabidas e inadvertidas.

A isso denomina-se humanidade. Ser um ponto de poeira no espaço e ao mesmo tempo ente divino. Ser simples, um nada, e ao mesmo tempo a imensidão. Como astros, não vemos o próprio verso, a outra face com claridade. Nem bem enxergamos nossa sombra.

E os relógios não param, e as cobranças não cessam, e julgamentos não são exceção, mas a regra. Do lado de fora um mundo de demandas e olhares se processam e nos processam. É preciso provar-se diariamente. Impossível apenas viver, suprir-se, contentar-se per se. O universo particular - nesses termos - é pequeno demais. O ente que tenta não é bem visto, diferente. O ser que diverge, escapa da manada, "tem problemas".

O que nominamos de ser livre está preso a conceitos, normas, grupos, tarjas, cercas. Não se pode ser "si mesmo" impunemente, ainda que não ofereça perigo. Individualidade ofende, personalidade ameaça. Afinal, ser social, compor sociedade é estar inserido, aceitar normatiza-ações.

Como um poço de desejos e carências, careço de presente manso, cabeça serena. De momentos coloridos por dentro, em algum dos tantos tons da alegria. Preenchidos menos de matéria, mais de significados. Menos de coisas, mais de conteúdos: sorrisos concretos, substâncias ricas de abstrações valiosas.

Como um poço de desejos e carências, careço de corpo que mova e me leve a contemplar beleza, coletada com olhar, pela pele... de modo a preencher espaços, meus escuros. Preciso de pulso... com pouca pressão: arrebatamento. Impulso visceral da emoção suave. As tantas lacunas que porto enlevam-se preenchidas a palavras doces, ideias luminosas, aos gestos de carinho e atenção.

Ahhh, tão simples e tão complexo ser feliz ! A cada momento um novo ser em mundo novo. A cada instante um repensar, um contemporizar, um calibrar, um exercício de re-agir.

Por tanto, com tudo, essencial perseguir presente manso, cabeça serena. Momentos coloridos por dentro, em algum dos tantos tons da alegria. Ocupados, satisfeitos não de coisas mas de conteúdos: sorrisos concretos, substâncias ricas de abstrações valiosas.

Ser feliz é para os fortes: de-mentes de coração !