Quantos passam olhos sobre as letras, correm por palavras, atravessam frases, atropelam conversas... sem beber da fonte, ponderar a respeito, pró-seguir... adiante ?! Quantos passeiam linhas, varrem páginas, ideias, sons... e só ?!
Com veemência, devoramos dados, engolimos notícias, acumulamos índices, somamos relatos... sem muita mastigação. O que absorve-se, então ?
Bem-vindo o fast food, o enlatado, o congelado, o semi pronto... que não demanda meditar ?! Que venham as revistas, os posts, as manchetes dos jornais?! Refletir, ir além ? Pedir demais !
Pensar, apreender ? Insta tempo. Ficar a sós consigo, buscar respostas pessoais, caminhar pelo silêncio ? Impõe trabalho. Ponderar pede atenção. E temos pressa ! Tanta coisa pra dar conta, mil tarefas a cumprir !... Cômodo descartar itens mais sólidos, que demandam digerir.
Assim, consumimos antepastos, múltiplos aperitivos... sem muito tento à nutrição. Tornamo-nos cultos, eloquentes, eruditos. Discorremos ricamente sobre muito... e vivemos um tanto pobres, com vazios de sentido. Alimentar-se de elemento que acrescente ? Melhor algo que aparente, não demande mastigar, seja fácil de engolir !
E de dado em dado fazemos bancos. De informação em informação, compomos estantes ambulantes, bibliotecas virtuais, sabendo tudo do redor... e pouco de si. Trafegamos mundos de notícias, capazes de discorrer sobre temas variados, atualizados, permanecendo em superfície, quase andando sobre as águas.
Nadar em universo interior ? Somos capazes de enumerar índices econômicos, inaptos em investimentos emocionais. Podemos dizer o que o governo deve fazer, incapazes de administrar os próprios quintais. Estamos aptos a ditar regras a terceiros não sendo hábeis em dirigir a própria vida.
Há quem busque conhecimento, quem procure cultura, quem almeje sabedoria. Há quem exista e quem procure viver.