segunda-feira, 28 de setembro de 2015
Sair pra namorar
Nada melhor que uma boa caminhada a sós, acompanhado apenas de si mesmo, para ponderar a vida ! Enquanto as pernas se deslocam, mobilizando músculos, impulsionando sangue em sentido ascendente, cabeça aera... indo naturalmente onde é importante. Panturrilhas impelem, coração aquece. Mente processa dados, conteúdos de memórias, ansiedades, desejos. O devaneio abre espaços... preenchidos sem o peso da pressão. Consciente dá as mãos ao inconsciente, sem força. Caminham juntos, consoantes, co-incidentes.
Imagens adentram, alegorias emergem. O âmago tem asas e encontra frestas por onde escapar. O silêncio convida, o vagar abre portas. Pensamento sai... pra passear. Lembranças afloram, sinos soam, mensagens assomam. Pululam perguntas, desenterram-se respostas, varrem-se preocupações. Ideias andam... como crianças, livres, soltas, sem medo. Em meio a muito o essencial sedimenta, audível por dentro. Ouvem-se vozes... e histórias são contadas sem canetas, prescindindo de papel.
Observe, corpo pede para andar. A alma insta-o a sair, invita-o a liberar calor interior: suplica-lhe que refresque-se. Convoca o ser a colocar-se em curso, mover seus elementos, provocar vagas pelo mar de seu mundo. Chama-o a adensar-se suave-mente. Convida-o a clarear-se pelas vias do movimento leve. Roga que conecte universos.
Caminhar é orar com a carne, eleva preces. Passos se somam... e peso se subtrai. O calor que toma o corpo concentra o relevante internamente. O sujeito da oração passivamente multiplica o que portava à luz de razão. Ideias têm fluxo, brotam... pegada a pegada. Unem-se pontos, aproximam-se partes. Montam-se quebra-cabeças... com leveza. Não há busca, só encontro: perspectivas de clareza.
Pés pisam o concreto e alcançam nuvens. Comprimem objeto e extraem suco. A ideia-uva deixa a casca: mente faz vinho. Pistas surgem tal perfume, em gotas preciosas, oriundas do íntimo. Bebida brota... para ser degustada.
Ser se alimenta... de dentro para fora, calma-mente. Mastiga sem esforço, saboreia devagar, com gosto de desfrute. Abraça o tempo como aliado. Não o teme, toma-o. Apossa-se dele a seu favor, assessora-se do que surge. Faz das escalas do caminho mais notas musicais.
Ahhh, andar à deriva, deixar-se levar pelas ondas, aponta praias ! Caminhar só é uma dança... de silêncio falante. Isolamento que comunica, ato errante de acerto. Caminhar só é passeio para namorar... consigo. Via de terapia, metáfora de uma boa relação particular.