sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Ficção... ou não



Ah, se soubesse !...

Arriscado revelar. Nem mesmo as telas deveriam suspeitar, vislumbrar estes sussurros, pressupor estes segredos. O dedilhado tem censura. Paredes têm ouvidos - entrelinhas - escondidos. E este é mapa de relevos, território de reentrâncias, saliências, aberturas... e fechaduras. Cada olhar é uma chave e um caminho.

Nunca se sabe...

Sim, é perigoso !...
Palavras parecem inertes mas pulsam, intensas, silentes. Latentes, podem a-cor-dar a qualquer momento. São pacotes de intenções acalentadas, encapadas, camufladas, revestidas.... recheadas de energia.... pronta à propagação. São pedidos bem guardados, imagens almejadas, carregadas de anseios.

Nunca se sabe...

Sim, são sonhos !...
E, de súbito, podem tomar espaço, ter vida em mente. Transformar-se, atendidos, realizados, de repente... convertidos em confetes, festejos, fogos... explosões. Podem lançar pedaços meus, seus, nossos, à distância. Fragmentar o que é inteiro... ainda que apenas ideia, habitante do planeta pensamento, do universo da emoção.

Nunca se sabe...

Fantasias !...
Pálpebras cerradas e... pensamento o encontra. Olhar perante olhar, profundos, anunciando marés altas, grandes ondas, movimentos de calor. E então lábios se tocam. Passeiam primeiro pelos meios. Alcançam, depois, arestas. Percorrem extensas áreas no espaço exíguo de duas bocas. Beijos ajoelham à porta, antes de entrar. A vontade é de invasão... que se adia. O prazer preliminar, tão doce, se detém... a multiplicar operações de soma ali mesmo. Assim, deslizam de lado a lado, úmidos. Sorvem o anseio de engolir. Mordiscam lentamente. Avançam suavemente, devagar... para chegar... morando ali.

Nunca se sabe...

Desvario ?...
Braços alongam-se ao largo: borboletas de asas abertas, réguas lânguidas em esquadro, estiradas sobre a cama. Mãos caminham. Fazem-se algemas em pulsos, inertes... antes de correr terrenos, percorrer pele, em jornada de carícias e descobrimentos. Saem vestes, caem véus. Então corpo já tem dono. E é domado, em abandono, gozo grande de deleite.

Nunca se sabe...

Delírio ?...
Corações acelerados sob casacos de peles quentes. Pernas entrelaçam-se, valentes, em avanços de conquistas, rumo ao êxtase. O suor evaporado é perfume liberado do exercício de desejos encorpados, levados ao cabo das delícias da exaustão.

Nunca se sabe...

Faz-de-conta ?...
E vem o abraço imennnso, demorado. A mistura, o enlace conjugado: derradeira doçura... do encontro, da união.

Nunca se sabe...

Ilusão ?...
Cabeça passeia... e indaga... se casa ou não com coração.