terça-feira, 8 de setembro de 2015

Magia de gente grande



Foi ontem... há anos muitos, atrás. É viva a imagem da menina consumando, satisfazendo sonho, vi-vendo realidade pelas próprias pernas. Lembro perfeitamente do cenário e de como senti aquele presente pulsante. A emoção extravasava enquanto, feito criança, encantada com tudo, andava aquele parque que já tinha passeado antes, em pensamento.

Evoco vivamente a experiência, todo aquele sentimento. Um transbordamento boquiaberto, silencioso, cintilante. Estava só, repleta, extasiada. Sem companhia ambulante e, ao mesmo tempo, multiplicada. Conversava comigo, falava alto, em mente, sem parar. Tudo era novo, único, plural, especial: uma experiência absolutamente excitante, de deslumbramento. Não cabia em mim, mal podia me conter e não pular. Dançava por dentro, ebulia. Efervescia em sensações sinceras, genuínas, isentas de preconceitos.

Lá estava, personagem real em meio à fantasia, mescla de presente e passado, a todo instante uma surpresa. A-cor-dava, sem perceber, uma criança contida. Encorpava emoção. Em corpo orava à menina guardada em embalagem madura desde idade pouca. Permitia-lhe sair, dava-lhe espaço para expressar-se, silente, imensa-mente contente.

Era só emoção. Era a mais pura emoção. Uma emoção de natureza. A emoção nossa de cada dia que, por processo de maturação, é reprimida, refreada, elaborada. É preciso adultecer !... Assim ? Será ? Um preço é podar essa pureza, colocá-la - criança - na gaveta das memórias. Lugar onde alguns chegam mesmo a esquecê-la, inaptos a ressuscitamentos.

Aquele universo é um lugar de liberdade. Aquele pretérito foi momento de deixar-se ser, extravasar-se sem bloqueios conscientes. Oportunidade de descansar os filtros de mente de gente grande, contentores de satisfação inerente, limitantes de alegrias, censuradores de feliz idade a qualquer tempo. Ali vivenciava o espontâneo.. e levitava.

Em meio àquela magia recordava que, em corpo mais jovem, de menina "de verdade", recebera um cartão postal daquele castelo. Ele continha uma promessa: meu pai me levaria até lá um dia, adiante. O adiante chegara, era aquele instante. Minhas células realizavam o desejo acalentado desde então: olhos viam, a pele arrepiava... pisando aquele chão.

Não chegara ali com meu pai... mas chegara ali com meu pai, que não me acompanhava... mas me acompanhava, presente... corpo-ausente. Ele não tinha me levado até lá... mas tinha me levado até lá. Ali estava porque a educação que me oferecera possibilitara aquilo. Uma bolsa de estudos, disputada - entre tantos - em concurso, fora meu passaporte, o avião até lá.

Enquanto ouvia as melodias mágicas do lugar, meu coração era mistura de tempos. O passado, revisitado, era transformado, colorido, em prazer sensorial e gratidão. O corpo queria cantar. A pele, eriçada, dava o tom de dentro. O ser emocionado saltava à vista e a prazo, pelo olhar. Fazia festa só, consigo, em silêncio que gritaaava barulhento, satisfeito.

Em outras oportunidades voltei àquele território despudorado de idades, limites de certidão de nascimento, sem pré-conceitos tolos de maduros menores. Em doses diversas, companhias variadas, sempre, todas as vezes me emocionei. A experiência é plural e singular. Algo que todo ser maduro deveria permitir-se des-cobrir e explorar. Naquele ou em qualquer outro lugar.

Desvencilhar-se das armaduras de adulto também é crescer. Ser grande também é admitir-se pequeno, em versão pura-mente original.

Ser adulto contendo criança é essência de ser feliz. Nada mais sensacional !