segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Ler e-namorar



Declino, olvido convites. Escolho o silêncio de fora com música de dentro, a quietude do mundo com conversa de mente. Atendo a chamamento interior. Sair, margear bravatas de bar ?! Não, não vai dar !.. Prefiro nós dois. A sós, sossegados. Agora, no balanço da rede, depois, no macio do sofá... ou aconchego da cama, abraçados.

Circundo-o e... é um mundo em meu colo !... Passeio-lhe as mãos com desejo, quase realizado, de encontro aguardado. Os dedos alisam sua pele de papel, deslizam por sua face, por suas costas. Acaricio suas orelhas com curiosidade de começo. Avisto suas linhas, por onde passarei... percorrendo seus contornos, antevendo outras vivências.

Colo-me a seu corpo. Coloco cabeça sobre ombros. Deito o tato sobre suas dobras. Antes de prosseguir, paro... para sonhar, por um instante. Sigo desenredando meus enredos, deslindando temas, tramas, argumentos. Solto amarras de pensamentos meus para subir nos seus e fazer tranças. Deixo rédeas e relógio. Estou pronta... e me entrego. Acompanho suas histórias, embarco em suas fantasias. Me permito seduzir.

Nessa estação, palavras são acenos, sentenças são convite de partida para roteiros novos, romarias, retiros de conforto, andanças de descobrimentos. Caminho com minhas malas. Levo bagagem para unir à sua e viajar... junto. Adentro o trem do inédito em sua companhia, com passagem comprada à livraria. Ah, almejo, aguardo ansiosa por nosso encontro !...

Sofá chama, poltrona intima. A rede nos acolhe, a cama nos acomoda e mistura. Uma ponta de pensamento seu e... desenrolo novelos, soltando ideias minhas. Uma pitada de sua inspiração e... vou longe, costurando universos ! Em seu peito liso de livro, cabeludo de palavras, repleto de possibilidades, descanso anseios, sereno. Levanto questionamentos, acendo desejos... e assim desperto o que é dor-mente, a cuidar de interior, melhor.

Nado suas sentenças sem pressa. Navego seus textos para amansar minhas ondas, domar dúvidas, alcançar a própria praia,  inundada de conteúdo fresco, embevecida de processo. Ah, novas descobertas, novas conquistas íntimas ! Ahhhh, calmaria e excitação simultânea-mente !

Enquanto convivemos, meu corpo enredado, olhos vidrados, circundo-o com as mãos, cerco-o de cuidados. Deixo-me tomar, envolver. Você me penetra, eu o possuo... e fazemos amor... de conceitos, sentimentos, ideais.

Deixaremos esses instantes de deleite, abandonaremos o momento... e não nos separaremos mais. Sua casca irá para a estante mas sua essência, então, me pertence e me perfaz. Sua alma também é minha um pouco. Incorporei-a. Terá voz noutras palavras, vestirá outras emoções. Seu perfume me apurou, me adensou, casou comigo. É encontro de vida eterna !