quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

ImpermanENTE



Alguns encontros catapultam-nos no tempo. Acordam recordações, revisitam vivências, percorrem sentimentos passados... tal filme reprisado, assistido à distância do calor das emoções de então. É muito interessante esse olhar de longe, mais a seco, não inundado de pungências, dos sabores vivos, ácidos, picantes, amargos... azedos, que só o presente, o vigente, possui.

Alguns contatos com o alheio colocam-nos em contato conosco. Levam-nos para dentro de nós, adiante em uma história decorrida... e superada, abandonada, sepultada... ou escondida da consciência. Comunica-nos com um ser antigo... guardado, transformado... ou oculto, disfarçado, em recônditos do próprio interior.

Lembranças pululam ao mero mencionar de um nome. Sentimentos afloram à simples visão de um vulto. Pensamentos irrompem, despontam sem convite expresso... e nos carregam, conduzem instantanea-mente. Marcas mostram-se à memória. Sentimentos surgem... a nos envolver de novo... sem exata mesma tensão. Vertem com intensidade dependente da natureza de cada ser. De como cada um é capaz de digerir o viver: sua forma de seguir, embrenhado ou não no sentir. Em suma, a depender de sua própria marcha, de seu processo de mutação pessoal.

A cabeça hoje permitiu-se passear por espaços distantes. Voou... visitando endereço por onde já pousou paixão. Vagou... passando por pipoca, frutas da feira, flores, filmes em fim de semana... sorvetes, piscina. Visitou viagens, músicas, camas, carros, sofás... e tantos outros temas e emblemas... para parar aqui, num agora tão distinto. Perambulou... para atestar, aqui, outro alguém, tão diferente ! Ainda muitas mas não mais a mesma. E quantas daquela perduram, quantas restam daquelas tantas ?

Entre muitas mudanças, segue o sol deleitando olhar. Contudo, sem convite a assentar sobre este corpo, como quando o banhava, por prazer, com seu ardor. Aceita de bom grado, com anseio, o calor só em abraço, carinho, palavra doce. No mais, aprecia sombra e frio.

O ente romântico pulsa... também repaginado. Essa face de ser também se renovou, tem outros tons, nuances, naipes. Exterioriza-se sem tinturas, cores gritantes. Apercebe-se e apossa-se do mundo de outros modos, mais sutis.

Há coisas que o tempo trouxe... e que tirou. Naturalmente. A constatação de ser muitas e mutável é tão agradável que as perdas pesam pouco... até aqui. Não sei quantas vivem daquela que, no passado, alguém conheceu. Não é possível nem mesmo afirmar se todas - das muitas que hoje deitarão - irão, a seguir, a-cor-dar.

A cabeça hoje permitiu-se passear... até parar no consequente presente. Fica evidente que muda muito, desfila entre diferenças... acompanhando o andar do coração. O corpo se deixa levar, conduzir pelos dois... mas seu dono também é o tempo.

Talvez o mais interessante, notícia sempre atual, é que não há uma mesma mulher nem mesmo a cada manhã. O que pode ser considerado uma dádiva, algo a celebrar... ou o oposto, a depender de quem julgar.


Prazer, Jeanine !