terça-feira, 1 de agosto de 2017

Há tanta vida lá fora... aqui dentro !



E cá estamos, após meeeses de inverno da alma, estação prolongada de destempero do peito, dor de orfandade do coração ! Deixamos, já, o outono... contudo ainda não é verão. Ensejo com leveza uma primavera, tempos de clima ameno. Ensaio, com sucesso, o desfrute de dia a dia, como fazia... antes do susto.

De vez em quando uma música me visita, irrompe à memória. A vida encarrega-se de executá-la, dando-lhe vulto, face, forma, corpo além da esfera de canção. Balada pop, suave, gostosa de entoar, traz filosofia suficiente para, competentemente, explicar nossa roda-viva de mudanças, o processo de ir e vir nosso nessa andança. Usa, com propriedade e graça, a metáfora de vida e mar. Com ela resolvi voltar.

"A vida vem em ondas como um mar... num indo e vindo infinito..."
Tão simples, tão real, e tão bonito !... Quando a maré nos favorece, quando estamos à praia, assistindo ao espetáculo... e não nos debatendo dentro d'água, temerosos de afogamento, ansiando por resgate... ou apenas acordar do que desejaríamos fosse sonho.

Em ondas, naturalmente, levamo-nos e trazemo-nos, nadamos, mergulhamos, boiamos, debatemo-nos em ideias, emoções, eventos diários de diversas formas, múltiplas magnitudes. Obrigatoriamente passamos por areias para sermos capazes de apenas molhar os pés, que seja. Para desfrutar as benesses do passeio carecemos de certas precauções. Aprender a nadar é imperativo a quem anseia ir mais longe. O que não se consegue em uma ou duas lições.

E ainda que domine a técnica, qualquer um pode ser surpreendido, derrubado, tragado... pela majestade do mar-vida, maior que a sua. Para avançar, chegar a algum lugar sem sucumbir, é preciso respeitar tempo, marés, avisos, sinais... evidentes e nem tanto. Relevante ir devagar, observando as ondas, seus balanços, meneios. Importante sentir o chão, onde por os pés. E considerar os ventos, a formação de nuvens, um eventual predador. Seres incautos afogam-se em pouca água. Entes afoitos, imprudentes, indiferentes, desequilibram mais facilmente.

"Nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia..."
Como nenhum momento se repete, não há uma só onda igual a outra. Amplitude, duração... intensidade: variedade constante. A que se formou, que se deu, pereceu... beijando ou lambendo a areia. Dissipou-se e persiste mar, que apesar dessas mortes repetidas, vive, intenso, imenso, como se não houvesse havido um falecimento sequer. E as vagas imitam-se sem jamais serem as mesmas. E as horas se sucedem sem jamais serem iguais. "Tudo que se vê não é igual ao que a gente viu há um segundo. Tudo muda o tempo todo no mundo".

Não, "não adianta fugir, nem mentir pra si mesmo..."
As surpresas nos assomam. Não há como escapar de problemas, imprevistos, ao menos um abalo aqui outro acolá. O inesperado desponta, achega-se, entra frequentemente sem bater à porta. Por mais bem comportados, precavidos que tentemos ser, eles aparecem, abraçam, conduzem. Muitas vezes, atropelam. Ahhh, há distância, entre planos e realização ! Nem tudo - e provavelmente muito pouco - está sob nosso controle. Doce ilusão !

"Tudo passa, tudo sempre passará !... A vida vem em ondas..."
Sim, a gente descobre que é possível levantar, tendo ido ao chão. Sustos atordoam, subitamente roubam-nos de nós, mostram-nos frágeis, humanos. Engolimos muita água, ardemos os olhos... mas, apoiados, nos erguemos de novo. Fraqueza e força são faces da mesma moeda. Só um desapaixonado se entrega, desiste do que o move.

Banhamo-nos, momento a momento, num mar de mistério, buscando desvendar seus verbos, conjugá-los a favor... participando ativamente da criação das nossas sentenças.

Há tanta vida lá fora, há tanta vida aqui dentro... deste ser enamorado de viver !