sexta-feira, 4 de agosto de 2017
Coreo-grafias - parte II - a missão
Hoje, depois de passear pela poesia, resolvi caminhar pela prosa. Tentar, partindo de mesmo começo, igual princípio, percorrer senda simultaneamente semelhante e diferente. Confuso ? Explico. A partir de assunto único enveredar duas vias... e inferir fruto, produto. Saindo de um só ponto, sem rédeas régias, rígidas de razão, contemplar como a dita ideia poderia pousar. Conferir, averiguar, quem poderia portar mais conteúdo, comportar-se melhor... com mais leveza, com mais beleza. Que recurso é mais rico ? Algum dá conta de ir mais longe, é superior, vai além ? Quem supera alguém ? É possível deitar e rolar... no poetar ou prosear ?
O mote é música, dança, palavra, alma: como elas harmonizaram, casaram em mim esta manhã. Surgiram e desposaram-se espontaneamente. Foi sentir e... deixar manar, fluir. Sem força de comando imperioso, consciente. Quem norteia a escrita, então ? A regência foi do peito, de quem, por direito, é a batuta da emoção. Ao maestro a direção ! Em matéria de elegia, nada a prosa, mergulha a poesia. Ou seria ao contrário, vice-versa ?! Ah, controvérsias ! Questão de conteúdo ? Qualidade ? Opinião ?
Pois bem, bora começar, entrar no tema ! Quem separa dançarino e dança ? Começou assim a trança, daí tudo partiu. É, um nome, uma frase, uma imagem... um aroma basta: acende a chama de criar, compor. Soa música, que ecoa. Estimula a dança de escrever.
Palavra, aqui, é ponta de fio. Só sentar, puxar, que mais fio vem. Dedos em teclas ou entrelaçando lápis, aconchegando caneta e... costuro ! Assim tricoto meus manteaux. Sim, porque com palavra também me cubro, agasalho por fora, e forro, visto interior. É alimento, meio, veículo, caloria, medicamento, aquecedor. Com ideia e emoção faço tecido. E então vestido. E rede, e corda, e curativo, e cobertor.
Bom, mas e a dança ? A alma tange, toca, soa. Seu som emerge. E a carne sabe. Ahhh, corpo pulsa, anuncia, quer mover-se. Pele arrepia ! Próximo passo ? Procurar onde dançar. Onde dar espaço à emoção ? Prontamente papel a incorpora... antes ou após pés tomarem palco, irem ao chão. Psique pede. Essência quer verter, minar, comunicar-se, comungar. Conjunto todo quer cantar, bailar, dar-lhe voz, vazão.
Ente, então, voa. Cria asas, sabe-se livre. Deixa-se ser... pura oração. De inspiração faz ode, é graça: dádiva de realização.
E cá está: procedi prosa depois de deambular poesia. Pelos dois meios, ambas as vias, com palavras, voilà, coreo-grafias ! Dando corpo à alma, deixando dançar o coração, me entrego, me atrevo: escrevo !