terça-feira, 22 de agosto de 2017
CelebrANDO
Lembra-se da primeira vez, do primeiro encontro de encanto ? Muuuitos anos depois, desgarrados do passado, completamente desquitados de então, lá estávamos !... Um tanto desajeitados diante de longo hiato de tempo e de nossos novos papéis, vivíamos, ao vivo e a cores, o grande vale a pena ver de novo. O nascer de um nós, o princípio de um plural. Como esquecer ?!
Àquele dia não passeamos pela livraria como adiante passaria a ser usual: programa nosso, frequente, habitual aos fins de semana. Àquela tarde também não namorei livros, como de costume. Depois de desfile rápido pelos corredores, feita a colheita do volume reservado, rapidamente estávamos sentados ao fundo, no café. Como esquecer ?!
Você, apesar de tão vivido, parecia adolescente. Ahhh, é o que a vida faz com a gente: esquecer a casca quando o caso é de emoção. Estávamos à frente um do outro como jamais. Não éramos mais, há muito, aluna e professor. E quem, por céus, suporia que dali, daquele dia, surgiriam sementes... brotaria, futuramente, amor ?! Como esquecer ?!
Olhava-me, absorto, envolvido na conversa, por cada palavra. Absolvido de pudores, escancarava seu enlevo. Acompanhava meu falar como janela aberta ao ar, sorvendo o que podia apreender. As mãos acomodadas, hora ao colo, hora à mesa, também queriam prosear. Moviam-se e repousavam, assentavam e mexiam-se. Eram também boca, que assistia... a expressar, com vagar, uma marca sua: calmaria. Seus olhos enternecidos, em mim detidos, imergiam. Iluminados, falavam... sem deixar dúvidas, claramente. Aaaanos ausente e estava, então, todo ali ! Àquela mesa, primeiro encontro, e sem conter-se, disse-se encantado. Como esquecer ?!
Dali saímos para voltar sempre. Deixamos, aquela tarde, aquele lugar, para não nos deixarmos mais. Passei a passar hoooooras às voltas com aqueles volumes... e seus olhares. Era singular ver você me olhar ! Uma mistura doce de admiração e ternura, que me acarinhava à distância. De repente, enquanto percorria as prateleiras, percebia-o em mim, com seu sorriso sereno, a face falando. Divino de ver ! Sensacional sentir ! Como esquecer ?!
Você me namorava ali, abertamente. Flertava comigo à frente de todos. Eu me comportava mais. Fitava, namorava os livros... para depois amar você, a sós. Era, entretanto, um affair mutuamente indisfarçável. Olhares acabavam por encontrar-se sempre, para então enlaçarem-se as mãos. Em pele, corações. Ahhh, andar de mãos dadas, abraçadas uma à outra !... Por muito as minhas não souberam o que fazer delas mesmas, depois do adeus. Não conseguiam andar sós, perfeitamente moldadas que eram às suas. Como esquecer ?!
Naquela livraria fez-me muitas deliciosas declarações de amor. Tão ou mais marcantes que as mais calorosas. Sem a expressão "eu te amo", amou-me muito, muitas vezes. A confissão de encanto ao primeiro encontro. Os repetidos passeios de olhar por mim, seguindo-me os passos com sorriso. A adorável paciência, e deleite, ali, sem ansiedade ou pressa. Ahhh, suas feições ao me avistar em sua direção, com aquela cesta cheia de livros !... Um presente ! Lindo ! Como esquecer ?!
Lá, onde sempre namorei livros, também amei você. Vivi a dádiva de conjugar esse par e essas lembranças são celebradas como mais presente. O importante permanece. O que une não é volátil, efêmero como a carne. Ahhh, maravilhosas simplicidades, preciosidades que ficam ! Há felicidade na saudade. Como esquecer ?!