sábado, 12 de agosto de 2017
Medicina de palavras - parte II, o retorno
Palavras são pacientes. Em muitos momentos, meus prediletos. Ahhh, microcosmos de nuances expresso em pencas de possibilidades ! Mundo imenso, universo diverso e infinito. Sob sua superfície, desfilam o feio e o bonito. Em seus corpos, como homens, portam o vigor e o terror. Vestem bocas, telas... papéis, painéis, com paleta desmedida de adjetivos, extensa gama de cores, substantivos... verbalizando sintomas e sinais.
Palavras são terapeutas. Por conteúdo, oferecem lenitivo, conforto. Dão apoio, são estímulo... e fomento. Com razão, ocupam-se de sentimentos, tutelam entes, cuidam das dores de mente e coração. Com informação, vias de conhecimento, conduzem à compreensão, oportunizam entendimento.
Palavras são medicamentos. Em cápsulas diárias, regulares, doses maciças ou homeopáticas, operam em nossos sistemas. Adentram-nos, sutis ou enfáticas, drogas leves ou pesadas, estimulantes ou entorpecentes. Oferecem benefícios, vias de regeneração, podendo ser verdades... ou placebos, colírios de ilusão. Conduzem-nos a curas... ou loucuras, a depender de posologia e composição.
Palavras passeiam por nós, em nossos corredores, como circulam em casas... e hospitais. Pedindo atenção, carecendo de cuidados, expondo mazelas... entre belezas. Demonstrando dúvidas... e certezas pontuais. Ferramentas, dão forma ao que contemos, manifestam interior. São utensílios, instrumentos que tomam vezes de aparelhos. Revelam de enfermidades a profundas alegrias. Equipam e dão rosto a pensamentos e emoções, fisionomia às ações.
Pacientes, terapeutas, medicamentos... e amigas, envolvemo-nos de tal modo que a relação é interativa, de terapia alternativa. Combinando e confundindo quem dá e quem recebe, quem é útil, quem prescreve. Quem precisa e quem ampara, quem se serve e quem assiste, quem consome e quem atua, assumindo a direção. Quem medica quem, então ?
Ando com elas à cabeça. Vão onde vou. Companheiras inseparáveis, companhia mesmo em sonho. Dou-lhes olhos, ouvidos, todos os sentidos. Conversamos muuuuito. É demais ! Elas querem falar... e eu também quero dizer. Dou-lhes voz, visto-me delas. São portas minhas de expressão, e de aprender, minhas janelas. Muito cedo, sem saber, as desposei, casei com elas. Enlace eterno... e perfeita aliança !... Isso se ele - você sabe ! - não tramar das suas, de consciência fizer trança... e nessa dança de linguagem eu me perder.
Enquanto isso as abraço, as abarco, dedicada. Inspeciono-as, ausculto-as... silentes e sonoramente. Elas me tocam e as respiro. Proseamos e eu poeto. Namoro-as, ávida, insaciável, sôfrega e paciente-mente. Fiz-me amante. Convivemos noite e dia. São minha mais dileta e querida terapia.
Ah, só para informar, infiro palavras... e vou além. Aqui tem boa apreciadora e leitora de silêncios também.