segunda-feira, 4 de setembro de 2017
De novo
Voltei. De novo. Não fui longe... e fui. Muuuito ! Até logo ali... fora, distante aqui dentro, namorando mundos, embrenhada em mim. Profunda-mente presente, viajei uma vez mais, numa direção, em diversos sentidos.
Ambiente coletivo, olhar particular. Área limitada, impulsores desmedidos. Mira única, alvos múltiplos. Sítio conhecido, visão nova. Imersão total, absorção global. Mesma carne, muita fruta. Pés ao chão, cabeça nas nuvens. Passos ao plano, ideias às estrelas. Tato restrito, ausculta ampliada. Corpo contido, espírito livre. Mente fluente, tento estacionado. Ser singular, passeio plural. Muito espaço em pouco tempo. Apreciação plena, perspectiva ampliada. Extraí montes, colhi pencas... dessa vez sem plantar nada.
Voltei. De novo. Estive atenta, aberta, tanto, que "de tudo... e com tal zelo... em face do maior encanto... " encantado esteve o pensamento, momento a momento. Concedi espaço à profusão de notas, tons, sinais, acenos, sintomas... signos simples despertando o refletir, piscando alertas, acendendo descobertas. "Detalhes tão pequenos de nós", do mundo e meus, enlaçaram ideias, desataram descobrimentos.
Voltei. De novo. Aceitei todos os convites advindos do meio - externo e interior - sem policiamentos penosos, aprisionantes. Afrouxei algumas amarras. Deixei o pleno conforto. Desinibi-me de pequenos pudores. Permiti-me até miúdas ousadias. Assenti a tudo. Ou... quase tudo. Recebi o que me veio como parte do processo de autoconhecer. Aquiesci sem luta. Vi nuances novas de minhas próprias cores... alumiando, aclarando conclusões. Iluminei-me de pequenas surpresas íntimas. Uaaaau ! Não, não nos conhecemos o bastante. Quando é suficiente o que atinamos ? Quanto, quando sabemos ? Só até a próxima dúvida.
Voltei. De novo. Colhi frutos doces, de sabor suave... e também alguns menos aprazíveis. Transitei entre repetidas festas, deleites d'alma... e alguma nostalgia. Percorri adventos todos, sem piedade, com ternura. Não fugi, não me esquivei. Neguei-me à negação... e desfrutei prazer parido, com todos os sentidos. Coração ! "E em seu louvor, espalhei meu canto. Ri meu riso e derramei meu pranto"... abstrato. "Ao pesar ou contentamento", abracei a exploração. Ou imploração seria ?!
Voltei. De novo. Nada deixei para trás, de mim. Trouxe-me toda e mais um pouco. Mais muito, posso crer. Além das conchas coletadas, achados aportaram, fazem parte da bagagem. Com tudo estou leve. Longe de estar nua, despi-me um bocado. Ahhh, quantos os véus a arriar, cair, avante, ainda ? "E assim quando mais tarde me procure", quem encontrarei ? "Quem sabe a morte, angústia de quem vive, quem sabe a solidão, fim de quem ama", possa vir a responder.
Voltei. De novo. Hoje, é certo, "posso dizer do amor que tive". Tão plural, tão singular... que na alegria e na tristeza, na saúde e na dor, faz crescer, dá mais valor ao meu viver. Assim, vamos sendo esculpidos pelos ventos da vida, impressos pelas marés das vivências, talhados pela andança, na constância das mudanças.
Voltei. De novo. E é só o começo !... Porque agora a história passa a ser escrita do que se inscreveu em mim. Todo bem colhido, "que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure".