Por que molham o papel ?
Porque quando as palavras me faltam
São lágrimas que derramo.
O que palavras não podem,
Precárias,
Olhos proclamam.
E quando insuficiente,
São soluços que me saem.
Porque assim meu ser se expressa,
Con-versando.
Subitamente, acontece. Choro começa meio contido, até conter todas as cores, tomar todos os tons da emoção. Nasce não se sabe de onde, nem pra onde vai. Não pede consentimento. Não carece de entendimento pra surgir e não precisa se explicar. Deságua, escorre sem rédeas.
Acorda, simplesmente, de algum lugar de dentro. Desperta do profundo, universo velado, ocultado do intelecto. De algum tempo guardado, de algum estado escondido, desconhecido à razão. De algum vazio que enche e, então, derrama. Ou de um espaço cheio... com anseio de vazão.
Abertamente se manifesta, por impulso próprio, à revelia de regras, afrontando as contenções. Meramente quer sair... e brota, rebenta aos borbulhões.
Por que o repente ? De onde vem ? Que onda é essa a absorver o ser, engolido em lágrimas, submerso em soluços, mergulhado, inundado em águas de tão intensa comoção ?!
Quando a mente não dá conta do que acontece mais ao fundo, no interior do interior do nosso mundo, alma toma a palavra, a suprime, insuficiente que é. Sendo linguagem elaborada, ensinada, aprendida por razão, não se faz a mais loquaz, a mais capaz, fluente para expressar o peito. Então, talvez, prontamente se aproprie de outra via, outra voz: a da sua natureza. Dá-se ao direito de gritar. Põe sujeito a chorar.
Palavras, tão potentes, podem ser pobres, imprecisas, incompletas, imperfeitas. São meios mais de mentes que de corações. Assim, nem sempre a emoção encontra caminho por elas.
Alma em redemoinho, virada de ventos de saudades, de lembranças de carinhos, semeada de tantas sensações, tende a falar diferente. Deixa coração tomar conta da gente... e, então, depois, avisa.
Nem sempre é preciso compreender: sentir é saber que se basta.