quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Em sua homenagem



Lembro-me bem de seu-meu livro inaugural, da minha primeira leitura sua.
Foi marcante. Pensei: casaria com esse homem !...
Casaria sem casar. Desposaria seu pensar, aquilo que dizia:
O que suas palavras produziam em mim.

Pensei em escrever-lhe, como celebrara obras de outros autores.
Soube, então, que falecera... em mês anterior, aliás.
Uma lástima ! Não poderia voltar o tempo.

Naturalmente, li mais dele. Li-o bastante. Sem bastar.
Devorei-o todo, pedaço a pedaço possível.
Sempre com a mesma, reiterada satisfação, sensação de identidade imennnsa.
Algo como se estivesse ocorrendo um encontro real.
Via-o: uma espécie de espelho.

Aqui e acolá, pululam textos seus, novos-velhos, em minhas mãos.
Passeia, ainda, em porções inéditas, sob estes olhos... e o re-conheço.

Ontem, uma vez mais. E outra vez a redescoberta.
O reencontro... e a reafirmativa: casaria com ele !

Não, não é possível na matéria... mas em texto o desposo: com palavras.
Caso meu sentir com o que ele conta, com seu ser pensante, poético.

Aqui, em escrita, falando nossas línguas, filosofando emoção,
Pondero o profundo poetando com prosa, proseando com poesia.
Tento retribuir o recebido, externando-me como ele bem fazia.

Assim, troco alianças.
Caso não com casca, mas com conteúdo.
Con-tenha carne ou não.