quinta-feira, 13 de agosto de 2015
Coisa de alienígena
Sabe que a vida pra mim é dia, que a noite é pra nanar; não ?! Pois é, ontem cedi, sucumbi ao aceno de prazer e... caí na noite, caí na flauta. Ou, melhor; em violino e piano. Na cidade, um duo americano... e lá fui eu. Abri exceção, declinei de meus princípios... e foi o fim. Curvei-me a convite de deleite, rendi-me ao regalo, em nome dos melhores sentidos, pelo belo aos meu ouvidos e, com música, dancei.
Voilà ! Eis-me aqui, em carne e osso, ou osso e carne... moída. Destruída, atropelada. Tal vitral, o meu retrato: estou um caco ! De aparência embriagada, a imagem de uma noite de desfrutes: mal dormida, depois de bem passada. É, a menina está acabada ! Quem conhece já diria: figura de tragédia anunciada.
Não, não há nada... além de um bumbo em mim. Sim, estou de ressaca. E das bravas. E sem beber. E sem balada. Com aquela sensação de ser mesmo alienígena: cabeça pulsátil, pesada. Fronte gigante que muda de cor, com batida ritmada. O samba do crioulo doido em pessoa. Uma mistura de cuíca com pandeiro mais triângulo, tudo junto, desafinado, sem partitura. Uma loucura o que cair na noite pode fazer com a gente !... Que loucura o que cair na noite, sem beber, sem gandaiar, pode fazer comigo ! Aaaai, o tombo é grande. E levantar nem é problema. Operar é que são elas !
Sei que o mundo a meu redor gira um pouco diferente. É de gente mais normal, feliz ou infelizmente. Criaturas que desenvolveram a incrível habilidade de manterem-se de pé, olhos abertos, corpo em movimento ( acordados ? ) mesmo depois do off de seus relógios biológicos ter soado, ao apagar do céu. São capazes, inclusive, de adentrar as horas escuras em claro, varar as madrugadas. Prática absolutamente desaconselhável aos habitantes de meu sistema, dotados da necessidade de leito ao badalar das dez.
Sou satélite de Hélio. Isso é assunto sério. O planeta de onde venho, apesar de poético, aparentemente etéreo, gira ao redor do sol. Seus seres - espécie em extinção - são atraídos por silêncio, animados por luz natural, recarregando baterias à sua ausência, diretamente plugados a um colchão. Gravitam, à noite, necessariamente ao redor da cama. Ahhhh, nada como uma noite fria para compor uma atmosfera de saborosas melodias sob lençóis ! Hummmm !... Mas isso agora não vem ao caso.
Retomemos a questão de gravidade particular. Estou do avesso, dormi de menos. Aquém do suficiente à minha essência animal. E não se trata de figura de linguagem, não é modo de expressão, a ressaca é real. Levantei imagem sem música, não a-cor-dei inteira. Isso é ou não é mal ?!