terça-feira, 18 de agosto de 2015

Passeio ao passado



Basta uma imagem, um perfume, uma palavra e... viagem ! Embarcamos, sem bilhete, com passagem para longe. É pegar um lugar no pensamento e... o destino é passado ou sonho. Ahhh, a máquina do tempo, um ideal... real. Está embutida em nós, num ver por dentro, sob as luzes da memória, da emoção, da imaginação.

E num click, num repente, fui levada !... Conduzida, catapultada à mesa do café. Desembarquei anos atrás, na cozinha da avó, biscoito de nata à boca. A mente recebeu, do aparente nada, num instante, a roda branca, de pontas atadas sem muito cuidado mas com carinho de quem quer agradar.

Aos fins de tarde de sábados e domingos, reuníamos para chá, café, queijo, biscoito e pastéis. Não eram esperadas variações no menu. Tampouco na posição dos convidados. Os habitués estavam sempre sentados às mesmas cadeiras. Vô sempre à cabeceira. Ao lado, a neta predileta. Entre eles, sempre a mesma dança de mãos entrelaçadas. Pelas outras, desocupadas, caminhavam os quitutes.

Uma delícia de lembrança ! As mãos enormes do avô servindo queijo a grandes bocados, cortados em lascas largas. Sempre do tipo mineiro, de que gostava mais. Enquanto isso, a vó trazia os biscoitos de nata que só neta comia... e levava pra casa. Pequenos pacotes de papel, preparados especialmente pra deleite de depois.

As conversas passeavam por parentes, receitas, pais, maridos, netos, escolas, vestidos... atualizando os presentes acerca dos acontecimentos e fofocas da semana. Tudo tinha ares despretensiosos, disfarçando espera de seres ansiosos pelo que sairia do forno a seguir. A atenções circulariam, então, sobre os pratinhos dos pastéis. Ali todos se concentravam, em contagem de caroços de azeitonas, aos mundaréis.

O cemitério entregava as gulodices. Apontava, sem permitir esconderijo, quantos salgados tinham sido ingeridos, quantos pastéis cada um tinha comido. Era grande a vigília e enorme a gozação.
Nada era, entretanto, tão gostoso quanto o saber de chá e biscoitos exclusivos, o sabor de queijo carinhoso, o cuidado mão na mão !...

Bastou uma imagem e... viagem ! Embarquei, sem bilhete, com passagem para o passado, à presença de entes que agora passeiam à mente, alimentados com emoção.

Oi, vô ! Oi, vó ! Obrigada ! É com vocês que saboreio mais este momento doce. Do passado, um presente de lembrança: vocês se foram... e estão aqui.