A história começou há muito, vem de longe. Pois contarei tudo, do princípio, desde quando fez-se o verbo, tal qual em contos de fadas, proveniente do passado, partindo do "era uma vez".
Há muito, no reino londrino... nasceu meNina... que conversa em silêncio. Fala pelas bocas dos dedos, que exercitam-se pressionando teclas, com o prazer de pular em papel, saltando às telas. Por essas vias o ser múltiplo escapa. Têm vida o trapezista, a bailarina, o malabarista, o domador de feras... e a fera em si. O engolidor de fogo... e o palhaço que habitam o circo. Personagens que dormem e acordam alternando-se no palco, sem cobrança de ingresso.
Sim, respeitável público, o espetáculo é de graça, assiste quem assim o desejar. Por ele passa o que sinto, trafega o que vejo, correm as coisas de dentro e de fora da tenda dos dias. Coisas que pedem para ser partilhadas, que desejam ser divididas, que cobiçam ter espaço ou mesmo apenas respirar.
Por ele desfilam entidades que anseiam ser postas em liberdade, que sonham percorrer estradas, andar também em outras companhias, encontrar o alheio, casar com alguém. Nem que seja por correspondência, por páginas, telas, arquivos. Nem que seja caindo nas redes, em domínios diversos... sem lhes conhecer perfil.
Em cena um personagem que é muitos, com conteúdos que passeiam sós, em silêncio, e acompanhados.Vestem-se de monólogos, diálogos com quem não está, conversas com quem se foi, ou sequer conhecem. Comunicam-se por imagens, usam figuras de linguagem, ofertam o que adorariam dar, que sonham ter. Também têm lugar perscrutando dor, penetrando dificuldades... como forma de catarse, meio de terapia. Sob a lona sou eu !
Tudo é fio de ligação, tecido, ponto, remendo... costurando algo do ser, entre o próximo e o distante. O espetáculo é andarilho, itinerante, passo a passo navegante do real e da utopia. Segue o mapa do sentir, explorando saber... em busca da alegria.
Era uma vez... meNina. Eis-me circo, peça, cenário ambulante, prosa e poesia !