sábado, 19 de setembro de 2015
Felicidade
Não tem regra, não tem receita, não tem roteiro, regulamento, norma, produto pronto. Está procurando ? Não vai achar ! Ei, hello, dá pra acordar ?! Que idade você tem ? Felicidade é possível, é real, mas nada daqueeela realeza, a de príncipe, castelo, princesa. Essa a gente, já grandinha, deixa pras crianças pequeninas. Tudo tem hora e lugar.
Da criança de dentro eu cuido, trato, arranjo jeito de despertar do sono quando é importante, levo até pra passear. Mas, por favor, tudo tem hora e lugar. Aqui, agora, o assunto é ser feliz... maduro. Então, vamos lá. Acredita, ainda, em papai Noel, contos de fadas, estórias da carochinha ? Que peninha !... Vai continuar a dançar. Atrás de felicidade em pote, ao final do arco-íris ? Mas nem que caísse água todo dia ! Só se chovesse canivete, talvez. Talveeeez !
Atenção, planeta terra chamando ! Onde é que você pensa que está ? Dá pra descer um pouquinho, pra gente conversar ?! Até eu que vivo voando, com a cabeça nas estrelas, sei que pé fica no chão. Faço questão. E olha que estes andam ! Daí não dá pra ver, você vai ter de acreditar: estas solas estão gastas, carcomidas de tanta andança... por estradas e por trilhos... conscientes... com esperanças.
Felicidade, nesta humilde opinião, é um trem em que se entra a qualquer tempo. Um trem que leva boi, leva boiada. Que leva o ser tolo, que madura, e a criança criada - que é tirada, tempo em tempo, da gaiola pra alongar-se, respirar. É pinga-pinga que pára a toda hora, em todo tipo de estação. Nem sempre bonita, bem construída, colorida... onde, é certo que eu gosto, prefiro, adoooooro apear. Nem sempre só de alegria... onde pagariiiiia pra ficar. Ah, já aportei em cada canto, já caí em cada buraco ! Lugares tristes, mal-ajambrados... de perdas, de dor... de enganos, insucessos. E sacode a poeira, e dá volta por cima... e segue viagem !
Não, nem todas as estações são agradáveis. Exatamente por isso o são suas saídas, as partidas, as despedidas. Trazem alívio, alteram visões, mudam paisagens... geram sentimentos positivos e fazem agradecer pela jornada... de descobertas, avanços, superações. Olhar para trás e dar adeus a uma estação de dor é acreditar, confirmar que é possível, saber que tudo passa. Olhar para trás e poder seguir é um selo de esperança no passaporte. Olhar para o conjunto e perceber que faz sentido suplanta o que despertam os momentos isolados. Dá desejo, gosto de viajar !... E lá vamos nós !
Ainda que sonhe com passeios de luxo, prefira paradas amenas, belos cenários, sei que o trem anda... e vai atravessar estações que não seriam minhas primeiras opções. Também lá não vão ficar. Tudo tem tempo limitado, nem sempre fácil de julgar ou possível de prever. Não tenho pressa. Adianta correr ? É perder... de apreciar todo o possível. É deixar de degustar, beber o bom para, alimentada, ir adiante. Sabe-se lá o que me espera !
Essa felicidade que tentam vender por aí, recuso-me a comprar. Insistem em botar preço, apontam que basta passar cartão. Ou que, mais simples ainda, é rezar e aguardar. Esperar, parado, de braços cruzados ?! Ah, sei não ! Ou melhor, sei, sim: no meu quintal não acontece. Para quem acredita, talvez seja o caso, então, de investir no tal cifrão, pagar pra ver. Acho melhor me mexer. É outra minha ideia de milagre. Mas isso deixamos pra depois.
Tantas as variáveis da tal felicidade que não cabem em equação. Não tem mágica mas tem magia. Não tem receita mas ingredientes. Não tem roteiro mas tem caminhos. Não há mídia que me convença que está à venda. Ao contrário, não tem preço. Porque é transitória, soma de instantes. Fugidios o bastante para ser perseguida, procurada... como se estivesse escondida, estando apenas guardada. Misteriosa e clara, não é rara, apenas impermanente. Possível se não fantasiada. Possível se garimpada do lado de dentro.
Felicidade é viver tudo, consciente. Viver tudo... possivelmente. Para seguir renovado, abastecido... em direção ao presente da próxima estação.