terça-feira, 27 de outubro de 2015

E por que não ?!



A mente tem passeado por pecados e perdões, ultimamente. O tema tem despertado ampla variedade de olhares e, em terreno puramente abstrato, aparentemente religioso, rendido boas considerações objetivas, racionais. De tempos em tempos um assunto toma a cena com mais força. O palco das ideias recebe personagens e enredos múltiplos, mantendo peças em cartaz por temporadas variadas. Estamos em estação de dogmas... soprando a ventos leves.

Quem não teme o tema que avance um passo ! Quem domina esses sítios com isenção que levante a mão ! Quem não peca que atire a primeira pedra, então. Não eu, diria uma maioria. Tendemos a ser complacentes com nossos deméritos, indulgentes ante as próprias limitações.
A dar desconto a nossas pequenezes, a reduzir nossos defeitos. Pecado ? Mora sempre ao lado. Tem no máximo um quartinho no quintal, um puxadinho bem no fundo do terreno da existência.
O que é mau nunca é meu.

Pecados ?! Com o olhar mais aguçado, os tenho localizado vivos e constantes, presentes em várias esferas desta história pessoal. Por vezes tão bem disfarçados que, em primeira instância, não chegam a ser notados. Ainda assim, amiúde, habituais. Tendem a povoar as aparentes virtudes, podendo ser percebidos andando entre predicados, adjetivos e tais.

Dei-me conta de um deles, nesse instante. Em intervalo de leitura, onde foram deitar os olhos que pretendiam descansar ? Exatamente à prateleira, onde descansam os livros de que descansavam. O olhar que contemplava os volumes, parados, caminhava sem parar. Subia e descia estantes, deslizando pelo gosto de ver fileiras preenchidas de volumes perfilados. Dez andares recheados. Eis que - ups ! - um pecado é pescado, vestido de agrado: algum orgulho. E por que não ?!

A estante até há pouco desnuda, está gorda, gestante, polpuda. Ocupada em pouco tempo, aponta apreço... com deleite. É pedaço de parede com sabor doce: a aparência de matéria esconde a alma. Bibliotecas são o céu... com pés no chão. Esta cresce... desfrutada com orgulho, muita satisfação. E por que não ?!

Tendemos a ser complacentes com nossos deméritos, indulgentes ante as próprias limitações. A dar desconto a nossas pequenezes, a reduzir nossos defeitos. Pecado ? Mora sempre ao lado. Este, aqui apontado, há de ser cultivado. Talvez perdoado. E por que não ?!