sábado, 30 de setembro de 2017
Um segredo
Não, isto não é um diário ! Contudo, farei daqui confessionário. Renunciarei às reservas, deixarei o sigilo, abandonarei o silêncio... produzindo prosa. Talvez poesia. Farei confidência. Por palavras, abrirei minhas comportas, desnudarei o ser, exibirei quem sou. Vou contar segredo meu.
Não, nada mais de mistério ! Admito, habito outro planeta. Ente de uma espécie diferente, sou cepa estranha, ser de significados. Neste mundo, um ET. Estou aqui só de passagem, em missão: trazer mensagem.
Atente, então: aparência, o que facilmente se vê, é irrelevante. O importante está detrás. Guardado dentro, sob, abaixo. Avante, acima, superior. Pra lá do evidente, adiante de embalagem, em teor.
Tenha em mente: há mais que casca, aspecto. Ultrapasse, supere os mantos, superfície. Avance pele, prazer pequeno. Suplante a forma, sinais concretos. Sonde o abstrato. Fuce o invisível. Transcenda a imagem, penetre além, interior. Palpe por dentro, explore, percorra-se sem pressa. Descubra o que o move, de verdade. Ausculte-se com tento, sinceridade. Desvele-se. E chegará... ao amor.
Há janelas a abrir por trás de nossas cortinas. Destranque-as. Permita-se perceber... e refrescar. Propicie ao encanto entrar. Sinta à face a brisa de novo, perfumada de natureza, pura, tal qual à infância. Deixe dogmas, descanse pré-conceitos, julgamentos do coletivo. Seja... assertivo: assuma-se... ao menos por instantes.
Encontrará ente que pulsa, vibrante, latente e ávido de afeto. Verá de atinar. Saberá de sentir. O que parece é pouco, apenas pista. Por vezes menos, apenas máscara. Só disfarce, fantasia, ilusão. Meio, fachada de defesa. Escudo, proteção torta. Crença, alegoria. Mito... da caverna de Platão.
A pintura da parede só decora. Não esteia ou dá sentido. Arcabouço que alicerça, sustenta, equilibra, não se mostra. E lá está. Há que cavar. Há que querer apreender para encontrar. Preço a pagar: deixar zona considerada de conforto. Olvidar lendas... para escrever história com outras tintas.
Aparências são metáforas, falsidades travestidas. Mentiras escolhidas, fachadas sem consciência... úteis à sobrevivência. Nada além de artifícios, acessórios, ferramentas... válidas. Contudo, não o principal.
Máquina de carne opera, imperiosamente, movida a motor maior. Beneficia-se de capas, envoltórios, coberturas... encadernação. Contudo, entre tanto, isso é pouco. Impulsor primordial é o coração. Sem o que nem corpo perdura, nem humano palpita. Desprovido de afeto, emoção, descalço de amor, até terá os pés ao chão... mas jamais alcançará estrelas. É preciso mais, muito mais para vivê-las.