segunda-feira, 5 de março de 2018

Comédia da vida privada



Sim, isso é verissimo... mas nada a ver com Luís Fernando. Minha vida é uma comédia... sem Fábio Moraes. Não é peça de teatro. Ao menos não dessas em cartaz à noite, de quinta a domingo, num palco de poucos metros. Aqui tem espetáculo todo dia, a semana inteira, há mais de meio século. A meNina alterna drama, suspense e aventura. Vai do romance ao thriller em instantes, muito prosa... e sempre com poesia. Naaaada, nada de ficção ! Científica, então, pode esquecer !

Qual é a história desta vez ? Se eu contar você não vai acreditar ! Ok, eu vou tentar. Vamos lá, à trama toda, sem mistério.

A boneca foi passear. Volta do Caribe acabada... no bom sentido. Feliiiiiiiz da vida, só sorrisos, ensolarada !... E encontra a casa alagada, inundada, molhada do piso ao teto. E não é figura de linguagem. No escritório tuuuudo ensopado. Teto pingando, lustre babando, paredes desenhadas, coloridas pela água escorrida. No meio, sopa de papel, laptop, impressora & cia. Que alegriiiiiiia !

Adiantava reclamar ? Chorar também não resolvia. Somente aumentaria a molhação. Então, mangas arregaçadas e... malhação ! Dá-lhe balde, dá-lhe pia ! Enxuga aqui, espreme lá, onde podia. E na falta de pano suficiente, toalhas. Todas: de rosto, de banho, pequenas, médias e grandes, as que havia.

Enquanto dentro eu secava, lá fora chovia. Perdurou assim por dias, sem parar. Achei que ia embolorar. Eu, que adoro chuva, rezando pra parar. Que ela é boa lá fora, pra ouvir e admirar. Dentro de casa ? Definitivamente, não !

O que tinha acontecido ? A lage tinha bebido... demais. Não suportou, vomitou. Aaaai, que sujeira !... Entrara em cartaz uma reprise de "e o vento levou !...". E levou rufo, e levou calha. Deixou telhado pelado, entornando tudo aquilo: volume de semanas. Viajei de avião... e em em casa, furacão. Fui passear de navio e... o oceano me seguiu até o Brasil.

E dá-lhe exercício de espera, resiliência, meditação ! E dá-lhe pesquisa de calheiro, enquete de pedreiro, entrevistas, orçamentos... busca de solução. Isso para quando estiasse, quando o tempo permitisse que um ser subisse.

Depois de muito, o desenlace. Telhado ganhou remendo. E com a meNina lá, no alto do prédio, acompanhando teto tomar remédio. Um olho nos gatos outro no peixe... para tentar não passar mais apuro.

Ahhh, nirvana !... Nada mais de alagamentos dentro do apartamento. Volta, oh, chuva, a desfilar - lá fora - e a cantar pra mim !...

Foi assim. Até este sábado.

Quando parecia tudo acomodado, veio nova ventania. É, aqui não tem monotonia, não. Ela voltou. Veio de novo, vertendo do chão. Águas de março, fechando verão ?!

Acha que estou brincando, piada o que estou contando ? Nana, Nina, não ! Mas dessa vez estava em casa. Assisti, assustada, à alagação. De repente, já um tapete transparente ! Via, através do vidro, água invadindo, entrando, em enxurrada, lavando a sala sem permissão.

O que fazer, perguntava-me, ensopada. Barricadas ! Tentar conter a invasão. Evitar que, do chão, subisse aos móveis, descesse pela escada ao outro andar, todo madeira. E pega passadeira, cobertor, colcha, busca edredons !... Escorregando e levantando, erguia o que podia, esforçada em frear o alastramento, ocupação do outro piso e quarto ao lado.

Possível ação: fazer sair o que insistia entrar. Não era possível evitar. Abrindo a outra porta, pus-me a varrer, rodar água para fora, forçando contra a inclinação. Ahhh, que exercício !... De corpo, mente e emocional, até parar de chover... e o nível d' água descer. Vinte centímetros abaixo... e coluna moída, acima.

Ocupação contida, era hora de buscar auxílio, avaliar razão, promover solução. E lá veio nosso mais recente e já fiel escudeiro, cavalheiro das agruras das águas. Investido de seus apetrechos e poderes, debelou o inimigo: um ralo entupido, no térreo, catapultando toda água "morro acima", chegando ao meu andar.

Vencida a batalha, gratidão. Mais um teste terminado, vencido, com sucesso. Muito boa sensação !...

E voltamos aos sorrisos !... Que é tudo que eu preciso... até o próximo ato. Ou capítulo, ou edição.

Monotonia ? Aqui ? Não !