quarta-feira, 11 de abril de 2018

Um conto de amor



Era meu amor, o primeiro.
Primeiro namoro de meNina: mágico !...
E nosso último encontro, eu o sabia.
Despedida do visível.
O invisível ficaria.

Veio a mudança: centenas de quilômetros de distância.
Um afastamento intergaláctico quando se trata de amor...
Em tempo de cartas, expandindo esse espaço.

Ahhh, a ansiedade pelo envelope, a espera pelo... possível !
Apesar do sentimento puro, não poderia ser.

Era meu amor, o primeiro.
E nosso último encontro, nós o sabíamos.
Silenciosos, enternecidos, conversávamos com olhar.
Recusávamos-nos a usar sons, expor por palavras.
Bocas secas simultaneamente úmidas, divididas
Entre saber e anseio, entre a razão e o desejo do beijo.

Presenteei-o com um pingente pequeno, que portasse ao peito.
Ele, num xale, envolveu-me com seu calor.
Na impossibilidade de seu corpo, deu-me os braços pra eu levar comigo
...numa metáfora de lã.

Momento de embarque: quietude gritante.
Olhos orando, corações gritando à sentença...
Usando a língua das lágrimas silentes, em dor evidente.

Não, não o faríamos em voz alta.
Não o queríamos manifesto, declarado aos ventos.
Quem sabe, se o universo não ouvisse...

Era amor para ser consumido apenas pelo tempo.
Não reduzido, estampado em poucas palavras,
Abreviado em um adeus.

Como era pra ser, profundamente plantado, não se perdeu.
Descansa em lembranças, repousa sob as camadas de vida,
Morando na memória da meNina.




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