domingo, 27 de maio de 2018

Viagem a dois



Era cidade em que caminhava sem mapa.
Foi um rio em que fluía... e em que pesquei.
Caverna que me protegia, em que conseguia passear sem luz acesa, tateando com os sentidos: acionando ouvidos, olhar de antenas atentas.
Foi mar a que me entreguei... sem medo das ondas, sem temer marés... mormente ternas e tranquilas. Oceano em que desaguei... e que me alimentou, acolheu e me cuidou.

Ofereceu-me solo e riquezas. Terra em que colher e em que plantar.
Semeei-me toda... e o cultivei. Compartindo, multiplicando, fomos semente, flores, frutos... que colhemos juntos, saboreamos a dois.

Sabia de si por seus passos... mansos, mais leves... ou com pressa, pesados.
Sabia-o por seus sons... e silêncios. Sintonizava seus humores à distância.
Lia-lhe as linhas da face. E dos meneios das mãos à respiração.
Sabia o que o animava e o abatia... de longe, de cor, desprovida de palavras.
De início o nadava. Adiante o mergulhei, conhecendo mais mistérios.

As conversas levavam longe... e a quietude preenchia. Era soma, movimento que agregava.
Denegamos o sigilo, abolimos o segredo. O sentido e o pensado tinham sítio... arado com cuidado da estação.

Fizemos duo e tocamos em harmonia.
Dançamos, ritmados, aprendendo passos novos dia a dia.
Vivemos tempos tão claros, tão caros !
Uma viagem de vida impossível de esquecer.