segunda-feira, 28 de maio de 2018

Crônica de um dia de vida privada



Seria um dia sem obrigações, fluiria sem programas prévios. O único plano, determinado à noite anterior, é não ter planos. Passaria o dia numa só companhia: a sua própria. Sem afazeres pré-determinados, dando espaço aos desejos que possam surgir. Decreta que declinará convites... para aceitar o seu.
Assim, resolveu que nesse dia nada teria hora certa. Nada de encontros com horários: abaixo todo compromisso exterior. Nada de grupo de trilha, ou de meditação, ou de almoço. Estariam abolidos agenda e relógio, tudo a transcorrer sob o mando do momento, da vontade do presente: um domingo diferente.

Cedo, como de costume, acorda sem despertador. Sem precisar pensar as mãos entram em ação, tomam os travesseiros, arrancam-lhe as capas, despem o colchão, deixando-os nus. Enquanto descerra cortinas, envolve-se em blusa. Uma, enorme, em que adora perder-se em dias de frio. Já na área de serviço, aciona a máquina que começa a canção de lavar. Monótona e alta. Na cozinha, caneca d'água e toma todas, como se de ressaca da noite anterior. Rende-se ao próprio riso com a ideia... impossível. Volta, arruma cama, veste-se, visita o banheiro... e sobe para seu rito, a inauguração das manhãs.

Medita e passa à ioga, sem pressa. É tempo, então, de abastecer seu vazio interior. E lá vai de volta à cozinha ! Baila a banana com a aveia, uva... sementes & cia. Anda o ovo da geladeira e o café da cafeteira. Dá um susto na maçã, com um toque de canela e calor. Com esses ares de outono, cai bem, assim, quentinha. Sobe de novo, bandeja em punho, recheada. Vai acompanhar as escrituras. Laptop à espera, texto acontece com café da manhã. Hummmm: saborosa soma de alimentos matutinos !

Qual o capítulo a seguir ? Ação ! Corpo pede movimento. À rua, ao redor do lago, ou à academia ? Ah, vontade de ouvir música alta... e a escolha é a esteira. Trilha sonora organizada por DJ particular e dá-lhe correr, trotar com o sol abraçando-a à janela, vento fazendo coro suave. Lá fora mangas longas mas seu traje é top e tênis. Tudo com cor e tons de alto astral.

E, de repente, box de banho é pista de dança. Enquanto a água quente cai sobre os cabelos, desliza pelas costas, a música percorre-lhe o corpo, acompanhando o sabonete. Ou será o inverso ?! O balé é restrito, pobre em passos, mas ritmado por movimentos cadenciados de cintura e quadris,  acompanhados com sorrir.

Arruma ali, ajeita lá e... já é hora de almoço, avisa voz interior, que não sabe sussurrar: grita de novo. Atendido seu pedido, pernas pro alto um pouco e um alô a alguns amigos. Respostas em débito, carinhos à distância, parabéns a dar. É data de aniversariantes. Conversa em dia ? Nem pensar ! E quem dá conta ? Há também notas a tomar para programar a semana. De alguns pequenos deveres não se pode abrir mão.

A sequência é de cinema. Vontade de viajar longe, pra algum destino leve, despertando só sorrisos. A opção é de sessão da tarde, então. A escolha é um musical, de tempos só de sonhos. Que delícia ! É preciso admitir, a saudade passeou um pouco pela sala... como se o filme fosse assistido a dois. Coisas da vida !

E depois ?  Depois de reprise de banho e comidinha, mais uma rapidinha ao telefone e o encerramento do dia seria a despedida do Amor em Buenos Aires, que esperava à cabeceira. Em pouco, estava terminado mais um livro... com sabor de prazer. Foi um deleite enquanto durou !... Como tudo de bom que já passou. Coisas da vida !

Hora de despedida. Tempo tem asas ? Sim, foi-se mais um dia. Amanhã que venham os horários, as demandas, as tarefas acompanhando o relógio. Uma cama cheirosa a aguarda. E, quem sabe, outros bons momentos de sonho em bom sono, talvez.

A meNina fez nada de mais, mas tudo de bom... e vai Ninar, serena.