sexta-feira, 4 de julho de 2025

Co-autoria

 


Poesia não mais cabe ao autor quando parida,

Quando passa a ser lida, explorada por leitor.

Depois do parto não mais pertence a quem escreve,

Mas é descobrimento, uma conquista 

Inteira-mente de quem lê.


Não é objetiva,

Não apenas o que se vê.


Quando lhe declamo um verso

Você dá o veredicto,

É co-autor comigo,

Quem faz o canto acontecer.


Poesia é meditação de quem escreve 

E de quem decifra,

É andar conjunto, de mãos dadas, 

Pelo elã de viver.





terça-feira, 1 de julho de 2025

Amor na paixão : lapida-ação

 


Apaixonados, não temos fome.

Amar nos basta, nutre, sustenta,

Abastece todas as esferas do ser.


Ente de-mente dá asas ao coração,

Vira vida do avesso mais direito,

Faz o que pensamento não consegue sozinho.


Precisamos das paixões,

O peito precisa se expor.

Amar é, então, destino e caminho.


Enamorados carecemos de mais nada.

Co-mover-nos é avenida, via, acesso, rodovia, estrada, 

Posto de parada do estar bem. 


Pois que amar é lapi-dar-se,

Esculpir-se em movimento com alguém.





quarta-feira, 25 de junho de 2025

Brinde à poesia

 


Hoje ergo a taça à poesia.

Com ela brindo o que me toma, me acomete.

Sou serpentina e confete,

Celebro a vida como é: perfeições e imperfeições.


Tudo acaba por encaixar-se

Ao regar a prosa do dia-a-dia com poesia.

O mistério dá lugar às revelações.

O salgado fica doce e, bocado a bocado, aprecio seus sabores

Sem me desfazer de mim.


Vivo entidade,

Assumo minha humanidade,

Ao presente dou sentido

Sem tomar partido entre bem e mal.


Simplesmente aconteço.

Assumo que mereço o que se dá.

Ponho a vida a andar, sem correr de nada.

Sou criatura devotada ao sentir do meu pensar.


Um brinde à poesia !





terça-feira, 17 de junho de 2025

Pa-Lavrando

 


Eu me encanto com as palavras. 

De repente uma pulula, pula aos meus olhos,

Ou aos ouvidos... pedindo verso.


Subitamente palavra grita... ou sussurra

E então se aninha em meu colo

E assenhora-se de mim.


Surge do nada, de sopetão.

Brota de um texto qualquer,

De um trecho de música,

Da conversa com a vizinha...

Do bate papo com a amiga no sofá,

Surge de abismos, buracos negros...

Para aclarar-se.

E elege a mente como morada,

Enredada de emoção.


Faz-se ver, vem se mostrar

Em meio a um mundo de outras tantas.

É magia, com direito a varinha de condão.


Converte-se em estrela, a brilhar, 

Fica em  relevo.

Chamando atenção.

Bailando diante do olhar,

Em minha mente faz festejo.


Pa-lavrando ponho-me a poetar.




segunda-feira, 16 de junho de 2025

Novela de amor

 


Há tempos que não sinto o gosto adocicado de seus beijos.

Há tempos as bocas não bailam, não dançam fazendo festejos.

Há tempos somos só pensamentos, anseios soltos... sem porto certo.

Há tempos só há sonhos... e desejos.


Já fomos um de dois,

Separados apenas no conceito.

Há tempos perdeu-se o que saltava, pulava ao peito.

Não sei mais, direito, o que possui em suas lembranças.


Sei só que não há dança.

Onde já houve esperança há apenas vazio.

E o coração pede, com frio, que o aqueça.


Há tempos peço que apareça

Nova-mente, em amor antigo.

Que seja objeto direto, que se conjugue sem preposições,

Sem ser artigo de ilusões. 


Volta, faz-me calor,

Esquenta, abrasa, acalora-me agora.

Faz-se hora de emoções.

Nova novela de amor.




domingo, 15 de junho de 2025

Confissões

 

Você me esqueceu.

Me amou, um dia. eu sei...

Mas abortou-me de sua história. 

Hoje não passo de memória...

De uma imagem,

Uma vaga ilusão.


Já fui oásis, mais que miragem

Em que encontrou amor-paixão.

Sou hoje só recordação...

Um poema que não lê.


Esqueceu-me pra virar verso ?

Podia o avesso, ser peça em cena,

Filme de longa-metragem,

Romance e ação.


Arde pedir notícias,

Clamar imagens,

Chamar mensagens,

Só pra te ver.


Arde não tê-lo ardente,

Chamá-lo sempre e, insistente,

Querer teu colo sem o ter

No simples ato de escrever.


Diz que me ama.

Não quero, não careço cama.

Só um pedaço do teu peito,

Só um retrato de passado no presente.


Não te faz ausente.

Vem agora, vem depois, sem avisar.

Sem chegar, vem de repente.


À distância, faz brotar de novo o nós, de novo a gente.







sexta-feira, 13 de junho de 2025

Ritual


Quando me sento convido as palavras a sentar comigo.

Deito pratos, guardanapos, talheres de teclado... para recebê-las,

Acomodando-as à mesa.


Trançando, urdindo sentenças, 

Enredando, conspirando, construindo contextos,

Fazendo orações,

Construo, crio sítios, faço fazendas de versos,

Tramas de tecidos de invernos e verões.


Escancarando a alma com ajuda das mãos,

Descortino mares, mundos de memórias e emoções,

Disseco coração.


Almoço e janto ao mesmo tempo

Enquanto as tenho à tela, tábua, 

Lugar de comer letras...

A nutrir sentimentos, 

Passar impressões, saborear sensações. 


Quando me sento evoco, conclamo as palavras

E elas vão chegando... conquistando espaço.

Não pode haver pressa, só calmaria

Para apreciar a densidade das coisas,

Para degustar a iguaria de escrever.


Então me delicio, 

Provo e visto sal e doce 

Da experiência de viver.