quinta-feira, 15 de abril de 2021

De volta ao trabalho



Ahhhh, abro a tela como janela de ser, a tanto trancada.!

De joelhos, retomo o ofício, sagrado, ensejando veios de verter alma.

Reverenciando o mistério, posto-me aos pés das inspirações que pairam,

Desnudando dores de um afastamento compulsório,

De tempos poupudos de dúvidas, fraquezas, esvaziamentos mal nominados.


Ahhhh, aqui de novo !

Estes dedos, moldados para imprimir emoções, perderam funções

Fazendo coisas quaisquer, desimportantes. 

Débeis, dançantes a esmo, andaram tal ponteiros de relógios loucos,  

Presos em caixas-dias, horas infindáveis,

Vazias de poesia.


Padecemos, o todo, sem sentido.

Sobrevivemos quase sem pulso, em solitária de sentir intenso, sem expressão,

Apartados de palavras postas à mostra.







domingo, 8 de novembro de 2020

de-CORAÇÕES de casa

 


Sobre móveis marcam-se movimentos de morador.

Às paredes emol-duram-se memórias, coisas além de coisas,

Símbolos de história, efetiva-mente de afetos dando portas, 

Passagens, tais túneis do tempo por onde ser passeia,

Por onde transitam importâncias do peito, impalpáveis por si.


Mais que teto, casa coleciona momentos, expressa sentimentos,

Ecoa o acolhido por ente residente,

Convi-dando substâncias do ausente, 

Porções possíveis de passado a serem presente novamente,

ReabasteSendo interior.









quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Graças de Graça e Homero

 


Dona Graça mora no quarto andar há aaaaaanos. Tem o prazer de dizer que é a primeira habitante local. Eu tenho o prazer de ver sempre seu sorriso. Aos oitenta e quatro anos e muita saúde, com frequência esquece de sair mascarada. Em tempos de tantos disfarces - autorizados e obrigatórios por lei - esse, digamos, deslize, dá-me grande privilégio. 

Seu Homero, habitante também do prédio, devidamente paramentado, brinda-me com olhares alegres, gentilezas verbais de cavalheiro, daqueles de antigamente. Agora não podendo mais beijar-me a mão, carinhosamente me chama de princesa. Do alto dos mesmos e diferentes oitenta e quatro, e muita saúde, colore, como sua companheira, minhas passagens pelo hall e elevador.

Dona Graça é mignon, magrinha, sem massa muscular. Aparentemente frágil, mostra força de dentro no rosto de poucas rugas e principalmente nas palavras sempre muito positivas. Religião ? Espírita praticante.

Seu Homero, por sua vez, católico assumido, assistidor de missa dominical, muito parecido em ânimo, diverge nas formas avolumadas, corpo de homem alto, nunca magro, que alargou. 

Ambos são grandes em suas incomparáveis medidas. Tento sugar algumas gotas sábias suas nos rápidos encontros não marcados, de saídas e entradas, cada vez menos frequentes. 

São gente que ensina sem dar lição, pela face que fala, voz em tons sem superioridade, desenvoltura do andar no tratamento com vizinhos. Ambos se movimentam bastante bem em moldes de corpo que nem de longe se comparam e parecem mostrar que não há receita para tal em termos de bem-estar. Demonstram estar confortáveis em suas carnes, na melhor medida possível para as datas das certidões de nascimento.

Enquanto com eles, entre as exclamações que experimento, marcantes e sutis, invariavelmente vêm as de cobiça - aquela inveja doce de ansiar igual. Quero ! Como ? Acordo sempre mais perguntas depois de deixá-los. Como ? Quero ! Que mistério esse de estar aqui, único, sem posologia ! 

Fórmula, segredo ? Desvendá-lo dia a dia.



 

 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Sabe ?



Sabe o que é estar com alguém e só estar com alguém, estar totalmente com alguém ?

Sabe o que é ouvir algo e apenas ouvir algo, envolvido em presença, sentindo, partilhando impressões ?

Sabe o que é uma cama, um sofá, um filme, um colo, um aconchego... um sorvete, uma tigela de pipoca degustados a sós, a dois ?

Sabe o que é provar simplicidades, totalmente penetrado, acompanhado, em interação ?

Estar onde se está, com quem se está, inteiro na conversa, olho no olho, no abraço, no silêncio... e não ser soma de pedaços separados, ente repartido... é o que faz sentido pra mim.

Um pouco concreto é mais que um bocado alheio, que bastante objeto.

BEM-estar, algo etéreo, toma, assim, verdadeira dimensão. Preenche peito, anima alma, ação, move a gente por sorrisos láaaaaa de dentro. Faz momentos preciosos: FELIZ idade.

Não me interessa estar sem estar, dividir falso, não compartilhar ser.
Presença ausente não me basta... porque não abastece.

Daí tantas pessoas estarem em tantos lugares virtualmente, com tantos contatos ao mesmo tempo, despedaçadas... correndo atrás de coisas, passando de tela em tela, de boca em boca, mão em mão.

É um vazio disfarçado, maquiado de muito.
É estar com ninguém, sequer consigo.

Ponderar, refletir, escolher pode doer.
Daí tantos pilotos automáticos ativados, tantos botões apertados, instantes esvaziados de essências, de sabor.

Prefiro o menos que é MAIS.
           
É possível.
É ma-ra-vi-lho-so !





sábado, 14 de dezembro de 2019

Sem fim de mim



Por quantas de mim já passei,
Quanto de ser já fui,
Quanto de estar deixei por essas estradas,
Percorridas, passadas, passo a passo, pelos tempos !...

Desfilo deixando pedaços,
Desmembrando-me, associando peças,
Desmontando e montando
Quebra-cabeça de crenças, ideias...
Planos, sonhos, emoções.

Estive intensos invernos, radiantes primaveras,
Extensos outonos, di-versos verões.
Muitas, muitas, muitas diferentes... estações !

Quantas versões já vi !
Que história escrevi ?
Tantos capítulos até agora !

Quanto construí, quanto quebrei ?
No que dividi, quanto somei ?

Vou sentindo o que colhi.
Me pergunto o que plantei.





segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

ReapareSendo



Ele se move em mim.
Colocou-se, há pouco, entre as cortinas,
Em meio a uma rajada leve de vento que permitiu entrada de sol,
O nascer de reflexos em horizontes de persianas.

Adorava me ver fotografar essas pequeninices
...e aprendia silenciosamente, enternecido e maior, com riquezas novas.
Foi o mais jovem que um não jovem poderia ser.

Em nossa última viagem já era um grande bocado da meNina
Também nos olhares, capturas e clicks... que só eu vi revelados.

Um reflexo mínimo me chama... e, voilà, ele reaparece !

Incrível como continuo aprendendo com ele, apesar da ausência tátil, visual !...

Se isso não é presente do passado, o que poderia ser ?!

Ele se move em mim.
Como não amar, assim ?!


quarta-feira, 27 de novembro de 2019

MusculAÇÕES... e mais



Quais as bases, balizas de ações nossas, contemporâneas ?
Tudo é ciência, o supremo motorista ?
Qual a sua influência sobre o modo, passageiro, de viver ?

Verdades, atualidades são mutantes.
O que vale, não valeu antes.
Será fato, é premissa, máxima de amanhã ?
Terra já foi quadrada e centro do universo.
Grandes princípios também têm fim.

Somos entes conscientes, eleitores, etapa a etapa,
Ou sujeitos de manada, separados do sentir,
Apartados de optar refletido, cuidado,
Premidos em meio ao que manda o mundo ?!

Hoje, quem é você, o que sou eu ?
O que lhe serve, igualmente serve a mim ?
Que idade tem, qual sua história... e a memória em sua carne ?
O que contém seu coração ?

Carro, carro, carro para não perder tempo
E depois, pisar, pisar, pisar esteira, no lugar,
A gastar a economia !...
Puxar peso à academia acresce músculo.
Pode somar cortisol, descendo chicote, em penitência ?
Quanto em nome de aparência ?

Ser sarado é ser moderno ?!
Que corpo esculpido é eterno ?
E o etéreo, onde mora, o que o alimenta ?

Idade vem, e nos vemos, e vamos... com mais ou menos qualidade
Em soma de esforços e sorte, venturas e desventuras,
Variedade de saberes e símbolos inconstantes.
Vida é cambiante.
O que é definitivo, além do instante ?

Sentir, ponderar... ou seguir sem questionar
O que pode acrescentar ao singular,
Crescer ser ?

Estar mais flácido e mais feliz
Ou fazer o que outro diz, sem inquirir-se ?

Futuro pode ser plantado apreciando melhor presente ?

É coisa de cada um, resposta particular,
Desafio
E missão de ser vivente.